Laranja Mecânica - Anthony Burgess
"O homem que escolhe o mal é talvez de uma certa forma melhor do que aquele a quem a bondade é imposta."
É um livro que eu nunca escolheria para ler, então agradeço à LC Leituras da Rory Gilmore por me apresentá-lo e provar que eu não entendo nada sobre meu gosto literário.
No livro conhecemos Alex, um jovem popular que lidera sua gangue e passa os dias cometendo crimes ultraviolentos. Ele se mostra um excelente narrador e compartilha seus pensamentos de forma tão aberta e sem pudor que em poucas linhas nos sentimos íntimos, e isso quase me fez abandonar o livro, pois ele narra cenas de surras, estupro, roubos com tanta naturalidade e detalhes que me causou repugnância, então pulei algumas folhas.
O dialeto utilizado pelos jovens também não ajudou, chamado Nadsat é baseado em gírias russo-inglesas, contudo ao longo da trama é possível perceber o contexto das palavras e entender perfeitamente, no final eu até já estava utilizando algumas no dia a dia, horrorshow né!
Da metade para frente o autor começa revelar sua obra prima, Alex é preso e aceita participar de um novo programa de reabilitação de comportamento, só para sair da prisão. Neste ponto a história nos leva a muitas reflexões sobre nossa conduta, nosso saber e julgamento com aqueles que cometem erros. Será que sabemos o que é melhor para as pessoas? É possível controlar o comportamento? Alguém é sábio o suficiente para saber o que é melhor para todos?
"O homem que cessa de optar deixa de ser homem."
Aqui também conhecemos mais Alex e sua família, a idade dele foi o que mais chocou e fiquei com a sensação que ele era (de uma certa forma) vítima de uma sociedade que talvez esperasse tais atitudes dele, não dando alternativas para outro tipo de vida e punindo quando ele cometia seus erros.
Não é a toa que se tornou um clássico, imagino o impacto que ele causou na sociedade quando foi lançado em 1962 e hoje é um dos meus livros preferidos.
"Eles transformaram você em outra coisa que não um ser humano. Você não tem mais poder de escolha. Você está obrigado a atos socialmente aceitáveis, uma maquineta capaz de fazer somente o bem.
E vejo isso com toda a clareza - esse negócio dos condicionamentos marginais.
A música e o ato sexual, a arte e a literatura, tudo isso passa a ser, agora, não uma fonte de prazer, mas de dor."
Narrada pelo protagonista, o adolescente Alex, esta brilhante e perturbadora história cria uma sociedade futurista em que a violência atinge proporções gigantescas e provoca uma reposta igualmente agressiva de um governo totalitário. A estranha linguagem utilizada por Alex - soberbamente engendrada pelo autor - empresta uma dimensão quase lírica ao texto. Ao lado de "1984", de George Orwell, e "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, "Laranja Mecânica" é um dos ícones literários da alienação pós-industrial que caracterizou o século XX. Adaptado com maestria para o cinema em 1972 por Stanley Kubrick, é uma obra marcante: depois da sua leitura, você jamais será o mesmo.
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