O Morro dos Ventos Uivantes – Emily Brontë



[...] o que é que, para mim, não se relaciona com ela? O que não me faz recordá-la? 
Não posso olhar para este chão sem que veja as suas feições recortadas nas lajes! 
Em todas as nuvens, em todas as árvores...enchendo o ar, à noite, e refletida em todos os objetos, durante o dia, eu vejo sua imagem! 
Os rostos mais comuns de homens e mulheres, os meus próprios traços traem-me com uma semelhança. 
O mundo inteiro é uma terrível testemunha de que um dia ela realmente existiu, e eu a perdi para sempre.” - Heathcliff


Como falar de um clássico que ganhou meu coração?

O Morro dos ventos Uivantes é um romance que foi publicado pela primeira vez em 1847, considerado inadequado na época, hoje é um clássico da literatura, leitura obrigatória para entrada em várias universidades no mundo.

Eu que adoro uma fantasia onde tudo no final dá certo, fui surpreendida com uma leitura intrigante, personagens misteriosos, vingativos e um choque de realidade em uma história que nem tudo é um mar de rosas.

Tudo se inicia quando Sr. Lockwood, novo inquilino da Granja Trushcross, faz uma visita à seu senhorio Sr. Heathcliff em Wuthering Heights (O Morro dos Ventos Uivantes), pego pelo mau tempo ele se vê obrigado a pernoitar na casa e tem a pior noite de sua vida. Sr. Heathcliff se mostra um pessoa taciturna e nada amigável, as outras pessoas que residem ali o tratam friamente e depois de acomodado em seu quarto, sonha com uma mulher chorando muito que insiste em entrar pela janela, ao acordar percebe muitas variações de sobrenomes com o nome Catherine gravado na madeira da cama. Apavorado com o lugar sombrio e o clima de rivalidade entre as pessoas, volta o mais rápido possível para a Granja Trushcross, mas não consegue parar de pensar o mistério que ronda Morro dos Ventos Uivantes.


De volta a sua casa, Sr. Lockwood fica muito doente e em seu repouso descobre que sua governanta já morou e conhece muito bem as pessoas de Morro dos Ventos Uivantes, assim começa uma bela amizade e a narrativa da história dos nossos personagens.









Emily Brontë, ao morrer de tuberculose aos trinta anos, havia lançado - um ano antes - um único romance, O Morro dos Ventos Uivantes. Publicado em dezembro de 1847 sob o pseudônimo de Ellis Bell, o livro chocou os leitores da época, uma vez que, para contar a história de amor entre Catherine e Heathcliff, a jovem autora expôs os sentimentos e a alma dos personagens de uma maneira pouco comum ao mostrar suas falhas de caráter e revelar o abismo social que separava os dois irmãos de criação, mantendo, assim, a tensão ao longo de todo o romance.A trama ganha contornos sombrios quando Lockwood, o novo locatário da Granja da Cruz do Tordo, faz uma visita ao seu senhorio, Heathcliff, proprietário do Morro dos Ventos Uivantes, e, durante uma terrível nevasca, precisa se abrigar na casa. A partir dessa noite nada convencional revela-se a história da paixão entre Heathcliff e Catherine.Emily Brontë criou um mundo próprio, perpassado pelo sobrenatural, para escrever uma das mais trágicas - e igualmente românticas - histórias da literatura inglesa. 


“Sentou-se diante de Catherine, que não despregava os olhos dele, como se temesse vê-lo desaparecer se deixasse de olhá-lo. 
Heathcliff não erguia muito seu olhar para ela; apenas de vez em quando e rapidamente. 
Mas o seu olhar refletia, e a cada vez mais, a incontida alegria que ele bebia no dela. 
Estavam demasiado felizes para se sentirem embaraçados.”



Sr. Earnshow, dono da propriedade chamada O Morro dos Ventos Uivantes, morava ali com seus dois filhos: Hindley e Catherine e viajava muito, em uma destas viagens trouxe consigo um menino de pele escura, um cigano para morar com eles, que sem nome, passou a chamá-lo de Heathcliff. Ele cresce junto com os filhos de seu protetor, contudo Hindley sente muito ciúmes do carinho e da preferência que seu pai dispensa ao estranho, já Catherine nutre por ele um enorme afeto e deste afeto nasce o amor entre os dois.

Após a morte do Sr. Earnshow, Hindley retorna de seus estudos e assume a propriedade, ressentido do favoritismo do pai pelo estranho, passa a tratar Heathcliff com muita animosidade e como um empregado comum, delegando a ele as piores tarefas.

Cathy sabe que seu amor por Heathcliff é proibido, mesmo ele alimentando muitas esperanças de viver com sua amada, ela entende que como filha de um senhor de posses deverá casar-se com alguém de família respeitável e após passar alguns dias na Granja Trushcross, residência dos Linton, ela volta mudada. Neste período, Cathy se aproximou do jovem Edgar Linton, mesmo não a agradando como Heathcliff, decide casar-se ele, pois assim manterá seu status social. Ao ouvi-la dizer isso Heathcliff parte de Morro dos Ventos Uivantes certo que perdeu todas as chances de ficar com seu grande amor.

“- Você me mostra, agora, como tem sido cruel!... cruel e falsa
[...] Você me amava… então, que direito tinha você de me abandonar? 
Que direito, responda-me! Em troca do capricho que sentia por Linton?”
- Heathcliff para Catherine

Alguns anos depois Heathcliff retorna com muito dinheiro e muitas posses, como ele conseguiu isto é um grande mistério, e encontra sua amada casada com Edgar Linton e morando na Granja Trushcross. Dividida entre seu amado e seu marido, Cathy sofre intensamente e acaba morrendo durante o parto de uma menina.

Revoltado com a morte de Cathy, Heathcliff procura vingança de todos que o impediram de viver seu grande amor. Pessoas não pense que o sofrimento acabou por ai, a vingança de Heathcliff se estende a tudo e a todos por gerações, ela dá o tom e completa o clima sombrio que sempre existiu em O Morro dos Ventos Uivantes.

Esta é uma história de amor tão intensa que pude sentir na pele a paixão e o sofrimento dos personagens, mas que está imersa em outras grandes histórias de vingança, amizade, ciúmes e que me fez (e ainda faz) pensar, como psicóloga, em como o ambiente e a interação com as pessoas, principalmente as que amamos, influenciam no nosso modo de pensar e viver. 


Não pude deixar de levantar questões como:
- É possível que as pessoas possuam uma maldade inata, assim como parece que Heathcliff tem? 
- É possível uma pessoa ser a única responsável por causar tanto sofrimento, mesmo sentindo um amor tão intenso?
- Se alguns personagens teriam uma conduta menos hostil e mais carinhosa se tivessem vivido em um ambiente mais amoroso?

"[...] sei, por instinto, que a sua reserva vai desde uma aversão à demonstrações ostensivas de sentimentos até as manifestações mútuas de gentileza. 
Deve amar e odiar igualmente, em silêncio, e achar uma espécie de impertinência no fato de ser amado e odiado.” 
Sra. Dean sobre Heathcliff


Este livro se tornou um dos meus favoritos, tenho por ele um sentimento único, pois não é um livro com uma história feliz, nem com um fim feliz, nem com paisagens bonitas, mas é o tipo que te prende do início ao fim, te transporta para o lugar bucólico, frio e sombrio que é a propriedade, te faz ficar envolvida com personagens complexos e com condutas amáveis e odiáveis.

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